L-Carnitina, mito ou realidade?

  • O que é a l-carnitina e qual a sua função no organismo? 
  • Vale a pena suplementar ou será mais uma tanga publicitada agressivamente pelas empresas de suplementação?
A l-carnitina é uma substância presente nos tecidos musculares dos mamíferos. Foi descoberta em 1905 por cientistas russos, tendo sido denominada de Carnitina, palavra que deriva do Latim carnis (carne), por se encontrar em alimentos de fonte animal, principalmente na carne vermelha.
Gulewitsch e Krimberg observaram que esta substância era essencial para o funcionamento das células musculares e desde então,foram efectuados inúmeros estudos até que em 1932 foi estabelecida a estrutura química da l-carnitina.
Durante muito tempo foi erroneamente considerada um aminoácido e devido ao facto de transformar os alimentos em energia, os pesquisadores equiparam-na também às vitaminas do grupo B. No entanto, contrariamente ao que sucede com as vitaminas, a l-carnitina pode ser sintetizada pelo organismo, mas sempre em pequenas quantidades. 
É um nutriente sintetizado a partir de um aminoácido essencial, a lisina, estando presente em todas as mitocôndrias do corpo e desempenha um papel importante no metabolismo da gordura, transportando os ácidos gordos de cadeia longa, para a mitocôndria (fonte energética das células) onde se dá a sua oxidação com o auxílio da carnitina-palmitoil transferase.
Sem carnitina a gordura não entra na mitocôndria e pode retornar ao sangue sob a forma de triglicerídeos (gorduras).
Este composto tem recebido atenção por ajudar nesta oxidação/queima de gordura, mas será que a sua
concentração pode ser manipulada pela suplementação e que mais carnitina é sinónimo de mais queima de gordura?
Em indivíduos deficientes de carnitina, a sua suplementação é de grande importância, a interrupção das funções normais da carnitina leva a hepatite, ao aumento da gordura corpórea e afeta os sintomas neurológicos.
Até agora vimos que:

  • A carnitina é produzida pelo organismo em pequenas quantidades, 
  • Pode ser armazenada através da maior parte do tecido muscular,  
  • Através de uma dieta equilibrada são absorvidas entre 50 e 100mg de carnitina diárias,  
  • É encontrada em alimentos de fonte animal, principalmente na carne vermelha.   
Doenças que podem contribuir para a diminuição dos níveis de L-carnitina:
  • Doenças do coração, 
  • Gordura no sangue,  
  • Cirrose,  
  • Hipotiroidismo,  
  • Entre outras...
A somar a isto e embora ainda sejam necessários mais estudos, a suplementação de L-Carnitina tem apresentado resultados benéficos nos casos de:
  • Doenças cardiovasculares, 
  • Isquemia do miocárdio (angina, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca),  
  • Doença arterial periférica, manifestação comum da aterosclerose,  
  • Doenças renais,  
  • Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA),  
  • Neuropatia diabética,  
  • Entre outras...
Parece ser uma substância bastante interessante com potenciais aplicações em diversas patologias, mas será que em indivíduos saudáveis a suplementação trará benefícios?
  • Suplementar l-carnitina ajuda a perder peso e a queimar gordura?  
  • Melhora o nível de performance e endurance?  
  • Estimula a síntese de testoesterona e promove a recuperação muscular?
As empresas de suplementação dizem que sim, que os estudos apontam para isso, mas não referem que estudos ou de quem.
É aqui que temos de traçar uma linha entre a função que um composto químico como a l-carnitina desempenha no nosso corpo e o que a toma por via da suplementação desse mesmo composto faz.
Muitas vezes o nosso corpo (que tem os seus mecanismos de produção e compensação), acaba por metabolizar e expelir (através da urina) a toma feita em excesso de algumas substâncias.
Não é por ingerir um determinado suplemento que a concentração do mesmo vá forçosamente aumente nos músculos ou no nosso organismo, esta relação muitas vezes não é direta. Há quem diga que em condições normais a carnitina exógena (tomada em forma de suplementação ou alimentação) é quase toda eliminada e expelida na urina. 

Este estudo feito em indivíduos ativos e sem défices nos seus níveis endógenos (na sua produção natural) consistia na toma de l-carnitina suplementada da seguinte forma: 
  • O objetivo era perceber se a l-carnitina promove alterações na taxa metabólica de repouso (no seu metabolismo quando não estão em atividade) e na utilização dos substratos energéticos (na queima de gordura), 
  • Parte do grupo das pessoas estudadas tomou um suplemento placebo (sem qualquer tipo de substância) para testar o possível efeito psicológico,  
  • Ambos os grupos estavam num programa de 12 semanas de treino e alimentação específica,
  • A conclusão ao fim de 4 semanas de suplementação é que não houve diferenças significativas nos dois grupos nas variáveis estudadas, ambos apresentaram valores semelhantes.
A conclusão parece ser que este suplemento é mais um mito criado pelas empresas de suplementação para encher os bolsos à conta dos nossos sonhos e expetativas, não há provas de que existam as tão afamadas melhorias estéticas e de desempenho físico da suplementação com l-carnitina em pessoas sem défices da mesma.
Experimentem e sintam no vosso corpo, no vosso metabolismo, na vossa pele.
Eu já experimentei e na minha opinião, este suplemento em particular é um desperdício de dinheiro. Conhecimento é poder